quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

(n)ave



por trás
da cortina
do tempo
:

paisagem
amarela
velozes
vozes
(rever)beradas

pelo vento
- agudos assovios -
não param
por fora
por dentro

tremulando
a mantilha
anti

contentamento
esc(onde
)
o sentimento
madru(a)daga
das asas
alma

fria

nua

ne s s e
ave s s o

mo(vi)mento


Narjara Oliveira

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Uno sex



I

Espelho vaziØ
que se sustenta
na pró tensão de quem o alimenta
pão cru que não fermenta
espelho frio

de um W.C. (Ø)

C
h
o quando no fastígio de sua aurora
r toca em si
a
. imã
. margem
. imagem

em pequenos pedaços se (des)faz
pequeninos traços
notas de um réquiem
inflexíveis metais


s e
de s m
a c h
am

tristes como as ondas que se quebram

qual o gozo do olhar em teu olhar?

_____________________ -um estranho-

da mesma
______________________ }entranha{



Narjara Olivié

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Uno Sex






II


Trêmulos dedos
não se (ar)riscam tocar
sua juvenil imagem

Não quer repelir
em milhares de talhes
Sua autopaisagem

logrado pela própria vaidade
cede aos impulsos da vontade.

________________ Horror
_________ a
__________ ver
_____________ são

Inesperada a normal idade
anormalidade
enigmas
________________ Paradoxal
_________________________ Familiar
_________________________________ Ex-entranho...


Narjara Oliver

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

JANDIRA


... enquanto escrevia me veio à mente este poema-evocação do Murilo Mendes. Onde estiver Jandira podes ler Narjara, pelo menos foi assim que o reli...

Bessos,
Pedro Vianna


O mundo começava nos seios de Jandira.

Depois surgiram outras peças da criação:
Surgiram os cabelos para cobrir o corpo,
(Às vezes o braço esquerdo desaparecia no caos.)
E surgiram os olhos para vigiar o resto do corpo.
E surgiram sereias da garganta de Jandira:
O ar inteirinho ficou rodeado de sons
Mais palpáveis do que pássaros.
E as antenas das mãos de Jandira
Captavam objetos animados, inanimados.
Dominavam a rosa, o peixe, a máquina.
E os mortos acordavam nos caminhos visíveis do ar
Quando Jandira penteava a cabeleira...

Depois o mundo desvendou-se completamente,
Foi-se levantando, armado de anúncios luminosos.
E Jandira apareceu inteiriça,
Da cabeça aos pés,
Todas as partes do mecanismo tinham importância.
E a moça apareceu com o cortejo do seu pai,
De sua mãe, de seus irmãos.
Eles é que obedeciam aos sinais de Jandira
Crescendo na vida em graça, beleza, violência.
Os namorados passavam, cheiravam os seios de Jandira
E eram precipitados nas delícias do inferno.
Eles jogavam por causa de Jandira,
Deixavam noivas, esposas, mães, irmãs
Por causa de Jandira.
E Jandira não tinha pedido coisa alguma.
E vieram retratos no jornal
E apareceram cadáveres boiando por causa de Jandira.
Certos namorados viviam e morriam
Por causa de um detalhe de Jandira.
Um deles suicidou-se por causa da boca de Jandira
Outro, por causa de uma pinta na face esquerda de Jandira.

E seus cabelos cresciam furiosamente com a força das máquinas;
Não caía nem um fio,
Nem ela os aparava.
E sua boca era um disco vermelho
Tal qual um sol mirim.
Em roda do cheiro de Jandira
A família andava tonta.
As visitas tropeçavam nas conversações
Por causa de Jandira.
E um padre na missa
Esqueceu de fazer o sinal-da-cruz por causa de Jandira.

E Jandira se casou
E seu corpo inaugurou uma vida nova.
Apareceram ritmos que estavam de reserva.
Combinações de movimento entre as ancas e os seios.
À sombra do seu corpo nasceram quatro meninas que repetem
As formas e os sestros de Jandira desde o princípio do tempo.

E o marido de Jandira
Morreu na epidemia de gripe espanhola.
E Jandira cobriu a sepultura com os cabelos dela.
Desde o terceiro dia o marido
Fez um grande esforço para ressuscitar:
Não se conforma, no quarto escuro onde está,
Que Jandira viva sozinha,
Que os seios, a cabeleira dela transtornem a cidade
E que ele fique ali à toa.

E as filhas de Jandira
Inda parecem mais velhas do que ela.
E Jandira não morre,
Espera que os clarins do juízo final
Venham chamar seu corpo,
Mas eles não vêm.
E mesmo que venham, o corpo de Jandira
Ressuscitará inda mais belo, mais ágil e transparente.




ARM



À Pedro Vianna


___________________ à direita da cama

___________ onde ela se deita

__________________________ desarma

__________________ derrama

___________ há um braço

______________________ branco

___________________________ estirado

_____________ que dor(me)

_____________ mas ch(ama)


Narjara Olivié


Tatuagem


Raymond Ferdman


Padrões pontuados dentro da pele

fragmentos de um nome inqualificável

tatuado em seu pulso torturado

números adicionando e subtraindo

o pigmento da sua mítica corrida

e também do meu nome através da história

Gravado em sua carne

o manuscrito de um livro

que ela disse ter escrito

em pedaços de papel

enquanto cavalos gigantes

correram toda a terra

sobre cabeças derramadas

e ossos quebrados

No meu sonho aquela noite

depois que ela dobrou o braço

sob a cabeça como um travesseiro

um casco gigante atingiu nossas faces gêmeas

e eu ajoelhei diante dela

para sugar o sangue de seu pulso

onde minhas unhas apagaram nosso nome


...............................................................tradução Pedro Vianna



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

alvos tóxicos



toxic targets - Marcus Antonius Jansen
48x36in. - 121.9x91.4cm

A noite passa...

a luz dum mirante

guia a vista cansada

para quem leva o adeus

são mais tristes as caminhadas,

são mais longas a calçadas

não sabe o que é pior:

a dor da partida,

ou a incerteza da chegada.

dor igual só a ferida

dos pés dentro das pegadas

a(que)las, sem porquê

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ para o nada.



Narjara Oliver