sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

na noite



João lin - niemeyerDesenho para a esposição “OSCAR NIEMEYER, ONDE O TRAÇO FAZ A CURVA"

aparição fanal
mitigada
pelo tempo
desceu
encadeou
a fenda
abriu
o corte cru
o estancou
me lavrou
me sujou
a brandura
morreu cheia
moveu-se oca
extra-vagante
atraves(sou)


Narjara Olivié

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

vermelho verme





nas noites de nervos & troncos
o despertar é vermelho

num trago ultravioleta
me exilo
a calmaria é cantante
o hino das sereias embalam uma fuga

na métrica
:
medo & ânsia

desenho no dorso do corpo
na boca do cálice
uma praga
que se alastra

pandemia
que assola meu sono
água
enzimas
sais inorgânicos

ácido
:
clorídrico & láctico

no ventre do silêncio
“toda lua é atroz e todo sol, amargo”
o precipício é estreito
e fermenta madrugada

Narjara Olivié

cafeina imaginária ou po-é-ti-ca tem-po


Xilogravura - Francisco josé Maringelli


Para você leitora incalta



os plásticos
embaçam o chão
as cores
se perdem no blecaute
e um traço-carvão
desfigura
o rosto
- cafeína imaginária -
delírios cambiantes
no lombo da viela
a linha tomba
a marcha lúgubre
ela divaga nas horas
surda & indolente
perfumando as quadras...

Ó! tormento noturno
con(fundes)
inquietações com prazer.



Narjara oliveira

terça-feira, 8 de julho de 2008


Ilustração de Gustave Doré par a Divina Comédia de Dante Alighiéri

canção agonista


para Narjara Oliveira

hoje não há perdão

XXXXXXXXXXXXXXX – só perdas

& chagas mal lambidas

pela solidão que nos

XXXXX persegue quando

mais nos buscamos

ainda que eu engula

montanhas de pedras ou

corte os pulsos

XXXXX com os cacos

afiados da vida

não seria capaz

XXXXXXXXXXXXXXXX de te provar

o valor de revelar-se

XXXXX desnuda aos 4

ventos da tortuosa

XXXXX estrada da existência

XXXXX sei que taparias

os olhos & ouvidos

XXXXX com chumaços

de paixão desenfreada

e me mandarias correr

XXXXXXXXXXXXXXX os 7 círculos

do inferno de Dante

a mim

XXXXXXXXXXX pouco importa

que fujas numa procissão

XXXXXXXXXXX ou cuspas fogo

sobre meus poemas

– velarei por teu nome

XXXXX como quem guarda

um segredo homicida –

levarei na carne

a lembrança tatuada

dos dias em que ardias

XXXXX como um sol

sobre minha pele

:

& esta solida impressão

te reinscreverá

em minha memória

XXXXX como um punhal

a persistir num corpo

XXXXXXXXXXXXXXX que agoniza

Pedro Vianna




terça-feira, 1 de julho de 2008



Curtas metragens alemães e poesia contemporânea paraense

Nesta quarta-feira, dia 2 de julho, quem curte cinema e literatura em Belém vai contar uma programação especial para o final de tarde. A partir das cinco horas, no espaço de ensaios da loja Ná Figueredo, vai acontecer o coquetel de pré-lançamento do Circuito Cultural Semeadura. O evento será uma prévia da programação que começará oficialmente em agosto e pretende movimentar eventos, idéias e discussões sobre literatura, cinema e arte contemporânea em geral na cidade.

A programação começará com a projeção de 5 curtas-metragens alemães cedidos pelo Instituto Cultural Amazônia. São curtas independentes de uma academia de cinema alemã chamada Baden Wutenberg Academy, todos produzidos por estudantes de cinema com apoio de cineastas famosos, como Wim Wenders. A Exibição desses curtas no Brasil foi a contrapartida do ICAB para a Mostra de cinema da Amazônia na Alemanha, realizando assim o intercambio cultural entre os dois países. Alguns desses curtas foram selecionados para o Student Academy Awards europeu.

Em seguida o poeta paraense Pedro Vianna fará a leitura de alguns poemas de seu novo livro, Sementes da Revolta. O livro, vencedor do I Prêmio Ipiranga de Literatura, foi bem recebido crítica, tendo sido prefaciado pelos renomados poetas João de Jesus Paes Loureiro e Antonio Moura. Sementes da Revolta é o segundo livro da carreira de Pedro Vianna e foi lançado no último dia 21 de junho. Esta será a primeira oportunidade do poeta de ler e trocar impressões sobre o texto recém saído da gráfica com o público.

A programação terminará com uma mesa redonda com time de peso discutindo poesia contemporânea. Os convidados são: Antonio Moura, autor de Dez (Gráfica & Editora Supercores, 1996); Hong Kong & outros poemas (Ateliê Editorial, 1999); e Rio Silêncio (Lumme Editor, 2003). Nilson Oliveira, autor de A Outra Morte de Haroldo Maranhão (Edições IAP, 2006), Benoni Araújo autor de Não por acaso dispersos (Inédito) e Pedro Vianna, autor de Itinerário Interno (Edição do Autor, 2007); e Sementes da Revolta (Fundação Ipiranga, 2008) que pretendem abordar a temática: Poéticas da Transgressão.

domingo, 8 de junho de 2008




Quando eu não te tinha, amava a natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza como um monge calmo à Virgem Maria, religiosamente, a meu modo, como dantes, mas de outra maneira mais comovida e próxima…Vejo melhor os rios quando vou contigo pelos campos até à beira dos rios; sentado a teu lado reparando nas nuvens reparo nelas melhor —Tu não me tiraste a Natureza…Tu mudaste a Natureza…Trouxeste-me a natureza para o pé de mim, por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma, por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais, por tu me escolheres para te ter e te amar, os meus olhos fitaram-na mais demoradamente sobre todas as coisas(...)

(...) Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo, e eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores. Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos, pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores, isso será uma alegria e uma verdade para mim.

O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, porque já não posso andar só.
Um pensamento visivel faz-me andar mais depressa e ve menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dele é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dele que não sei como o desejar.

Se nao vejo, imagino-o e sou forte como as árvores altas, mas se o vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dele. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dele no meio.

( transformei "ela" em "ele" com a licença amorosa de F.P.)

F.P.


“Nós as abraçávamos e dançávamos. Não havia música, apenas dança. O lugar lotou inteiramente. As pessoas começaram a trazer garrafas. Caíamos fora para curtir os bares e voltávamos voando. A noite estava se tornando mais e mais desvairada. Desejava que Dean e Carlo estivessem ali – aí percebi que estariam deslocados e infelizes. Eles eram exatamente como o homem melancólico da pedra que geme na masmorra, erguendo-se dos subterrâneos, os sórdidos hipsters da América, uma inovadora geração beat, com a qual eu estava me ligando lentamente.”

On the road (Pé na estrada)Jack Kerouac
Trad. Eduardo Bueno

terça-feira, 29 de abril de 2008

Poesia vertical I




Uma rede de olhar
mantém unido o mundo,
não o deixa cair.
E mesmo que eu não saiba que passa com os cegos,
meus olhos apóiam-se em uma costa
que pode ser a de deus.
no entanto, eles buscam outra rede, outro fio,
que anda fechando os olhos com um traje emprestado
e desprende uma chuva já sem solo nem céu.
Meus olhos buscam isso
que nos faz arrancar os sapatos
para ver se há algo mais nos sustentando debaixo
ou inventar um pássaro
para apurar se existe o ar
ou criar um mundo
para saber se há deus
ou colocar-nos o chapéu
para comprovar que existimos.



Roberto Juarroz >>>>>>>>>>>>> tradução narjara oliveira

outro lado




um dia seremos anistiados

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

(n)ave



por trás
da cortina
do tempo
:

paisagem
amarela
velozes
vozes
(rever)beradas

pelo vento
- agudos assovios -
não param
por fora
por dentro

tremulando
a mantilha
anti

contentamento
esc(onde
)
o sentimento
madru(a)daga
das asas
alma

fria

nua

ne s s e
ave s s o

mo(vi)mento


Narjara Oliveira

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Uno sex



I

Espelho vaziØ
que se sustenta
na pró tensão de quem o alimenta
pão cru que não fermenta
espelho frio

de um W.C. (Ø)

C
h
o quando no fastígio de sua aurora
r toca em si
a
. imã
. margem
. imagem

em pequenos pedaços se (des)faz
pequeninos traços
notas de um réquiem
inflexíveis metais


s e
de s m
a c h
am

tristes como as ondas que se quebram

qual o gozo do olhar em teu olhar?

_____________________ -um estranho-

da mesma
______________________ }entranha{



Narjara Olivié

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Uno Sex






II


Trêmulos dedos
não se (ar)riscam tocar
sua juvenil imagem

Não quer repelir
em milhares de talhes
Sua autopaisagem

logrado pela própria vaidade
cede aos impulsos da vontade.

________________ Horror
_________ a
__________ ver
_____________ são

Inesperada a normal idade
anormalidade
enigmas
________________ Paradoxal
_________________________ Familiar
_________________________________ Ex-entranho...


Narjara Oliver

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

JANDIRA


... enquanto escrevia me veio à mente este poema-evocação do Murilo Mendes. Onde estiver Jandira podes ler Narjara, pelo menos foi assim que o reli...

Bessos,
Pedro Vianna


O mundo começava nos seios de Jandira.

Depois surgiram outras peças da criação:
Surgiram os cabelos para cobrir o corpo,
(Às vezes o braço esquerdo desaparecia no caos.)
E surgiram os olhos para vigiar o resto do corpo.
E surgiram sereias da garganta de Jandira:
O ar inteirinho ficou rodeado de sons
Mais palpáveis do que pássaros.
E as antenas das mãos de Jandira
Captavam objetos animados, inanimados.
Dominavam a rosa, o peixe, a máquina.
E os mortos acordavam nos caminhos visíveis do ar
Quando Jandira penteava a cabeleira...

Depois o mundo desvendou-se completamente,
Foi-se levantando, armado de anúncios luminosos.
E Jandira apareceu inteiriça,
Da cabeça aos pés,
Todas as partes do mecanismo tinham importância.
E a moça apareceu com o cortejo do seu pai,
De sua mãe, de seus irmãos.
Eles é que obedeciam aos sinais de Jandira
Crescendo na vida em graça, beleza, violência.
Os namorados passavam, cheiravam os seios de Jandira
E eram precipitados nas delícias do inferno.
Eles jogavam por causa de Jandira,
Deixavam noivas, esposas, mães, irmãs
Por causa de Jandira.
E Jandira não tinha pedido coisa alguma.
E vieram retratos no jornal
E apareceram cadáveres boiando por causa de Jandira.
Certos namorados viviam e morriam
Por causa de um detalhe de Jandira.
Um deles suicidou-se por causa da boca de Jandira
Outro, por causa de uma pinta na face esquerda de Jandira.

E seus cabelos cresciam furiosamente com a força das máquinas;
Não caía nem um fio,
Nem ela os aparava.
E sua boca era um disco vermelho
Tal qual um sol mirim.
Em roda do cheiro de Jandira
A família andava tonta.
As visitas tropeçavam nas conversações
Por causa de Jandira.
E um padre na missa
Esqueceu de fazer o sinal-da-cruz por causa de Jandira.

E Jandira se casou
E seu corpo inaugurou uma vida nova.
Apareceram ritmos que estavam de reserva.
Combinações de movimento entre as ancas e os seios.
À sombra do seu corpo nasceram quatro meninas que repetem
As formas e os sestros de Jandira desde o princípio do tempo.

E o marido de Jandira
Morreu na epidemia de gripe espanhola.
E Jandira cobriu a sepultura com os cabelos dela.
Desde o terceiro dia o marido
Fez um grande esforço para ressuscitar:
Não se conforma, no quarto escuro onde está,
Que Jandira viva sozinha,
Que os seios, a cabeleira dela transtornem a cidade
E que ele fique ali à toa.

E as filhas de Jandira
Inda parecem mais velhas do que ela.
E Jandira não morre,
Espera que os clarins do juízo final
Venham chamar seu corpo,
Mas eles não vêm.
E mesmo que venham, o corpo de Jandira
Ressuscitará inda mais belo, mais ágil e transparente.




ARM



À Pedro Vianna


___________________ à direita da cama

___________ onde ela se deita

__________________________ desarma

__________________ derrama

___________ há um braço

______________________ branco

___________________________ estirado

_____________ que dor(me)

_____________ mas ch(ama)


Narjara Olivié


Tatuagem


Raymond Ferdman


Padrões pontuados dentro da pele

fragmentos de um nome inqualificável

tatuado em seu pulso torturado

números adicionando e subtraindo

o pigmento da sua mítica corrida

e também do meu nome através da história

Gravado em sua carne

o manuscrito de um livro

que ela disse ter escrito

em pedaços de papel

enquanto cavalos gigantes

correram toda a terra

sobre cabeças derramadas

e ossos quebrados

No meu sonho aquela noite

depois que ela dobrou o braço

sob a cabeça como um travesseiro

um casco gigante atingiu nossas faces gêmeas

e eu ajoelhei diante dela

para sugar o sangue de seu pulso

onde minhas unhas apagaram nosso nome


...............................................................tradução Pedro Vianna



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

alvos tóxicos



toxic targets - Marcus Antonius Jansen
48x36in. - 121.9x91.4cm

A noite passa...

a luz dum mirante

guia a vista cansada

para quem leva o adeus

são mais tristes as caminhadas,

são mais longas a calçadas

não sabe o que é pior:

a dor da partida,

ou a incerteza da chegada.

dor igual só a ferida

dos pés dentro das pegadas

a(que)las, sem porquê

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ para o nada.



Narjara Oliver