quarta-feira, 13 de agosto de 2014

11° Poesia Vertical - 3







Uma escrita que suporte a intempéries,

que se possa ler sob o sol e a chuva,

sob o grito ou à noite,

sob o tempo desnudado.

uma escrita que suporte o infinito

as rachaduras que se repartem como o pólen,

a leitura sem piedade dos deuses,

a leitura iletrada do deserto.

uma escrita que resista

a adversidade total.

uma escrita que se possa ler 

até na morte.


R. Juarroz >>>Tradução: Narjara Oliveira

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Não paga







a dor
decorrência
do prazer artificial  
pesa
não compensa 
dispersa
demerito proposital
dispensa argumentos
fragmenta o ser
o incapacita pro viver
incita a autodestruição
endossa a negação
há um vazio em sua morada
autopiedade em demasia
o flagelo se anuncia
é um dom sem obra
é um viver contrariada
partir sem dizer nada
desconhece mãe, irmã, ou namorada
que todo dia de madrugada
mata o que alivia
elege a euforia
e esconde sem sucesso
os tiques de agonia
deveras é a dor apurada
mas não compensa
não compensa, camarada
nem meia tonelada
sua possível fuga temporária